domingo, 18 de março de 2012

Os limeriques de Edward Lear


Sem passar em revista toda a biografia de Edward Lear (1812-1888), deve-se dizer apenas dizer que ele não é o criador dessa forma poética. Curiosamente, também nunca usou o termo limerick em seus livros. No entanto, é a grande referência do gênero, responsável por sua popularização ao redor do mundo. Lear não mexou na estrutura rígida do limerick, o que teria acrescentado ao gênero para ter ganho tanta fama? Sem dúvida o sucesso de seus poemas está na ironia refinada e no modo como concebeu um universo absurdo e charmoso, habitado por pessoas mais que peculiares. Pessoas com atos ou características inesperadas, que causam estranhamento, mas não tanto. Um absurdo cantado com delicadeza e calma, que o leitor aceita como humano, natural, como se dele fizesse parte.  

"There was an Old Man of Moldavia,
Who had the most curious behaviour;
For while he was able,
He slept on a table.
That funny Old Man of Moldavia."

212 no total, todos os limeriques se assemelham à medida que apresentam uma personagem e uma ação, funcionando como um miniconto. Na maioria deles, o personagem possui um hábito estranho, como no exemplo acima, que não possui qualquer explicação lógica, ou então uma característica física incomum, que leva a um comportamento absurdo:

"There was a Young Lady whose nose
Was so long that it reached to her toes;
So she hired an Old Lady,
Whose conduct was steady,
To carry that wonderful nose."

Antes de ser escritor, Lear foi pintor, desenhista de paisagens e pássaros (para ilustração de trabalhos de ornitólogos). E ele trouxe essa sua habilidade para os limericks, uma vez que criou uma ilustração para cada um. São desenhos tão irônicos e divertidos quanto os textos, que dialogam de tal forma com eles, que muitas vezes a impressão é de que os limericks não podem ser publicados sozinhos (como fiz ali em cima, por exemplo). Aqui, temos um bom exemplo disso:



"There was an Old Man who said, "How 
Shall I flee from this horrible Cow? 
I will sit on this stile,

And continue to smile, 
Which may soften the heart of that Cow."

Mais do que ilustrar a cena, o que constituiria redundância, os desenhos aumentam a carga de humor do poema, uma vez que também são irônicos e bizarros a seu modo. Nesses textos, não há intenção: o próprio Lear declarou que o único objetivo deles era ser nonsense. Não há entrelinhas, ele não quis dizer nada. No entanto, muitas coisas podem ser discutidas a partir da leitura dos limeriques. De algum modo, todos os seus limeriques carregam dentro de si atitudes e indagações humanas, relacionadas a medos, paranóias, desejos. A partir do momento em que apresenta atitudes absurdas, Lear nos confronta com as atitudes esperadas para aquelas situações, levando-nos a repensar nossas rotinas, nossos modos, nossa humanidade. Assim, ler Edward Lear é refletir sobre o que o ser humano tem de óbvio e tolo. E fazer isso rindo:



                                                    "There was an Old Man of the Nile,
                                                     Who sharpened his nails with a file,
                                                     Till he cut off his thumbs, 
                                                     And said calmly, "This comes
                                                     Of sharpening one's nails with a file!" 


Nenhum comentário:

Postar um comentário